A produção de cacau na Bahia carrega uma história de tradição e importância econômica, mas também de superação. Nas últimas décadas, o estado enfrentou um declínio severo devido à vassoura-de-bruxa, que quase dizimou a cacauicultura na região. No entanto, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de variedades de cacau mais resistentes permitiram que a Bahia retomasse a liderança na produção de cacau em 2023, ultrapassando o Pará com 139.011 toneladas produzidas, segundo o IBGE (Pesquisa Agrícola Municipal – PAM). Isso tudo, em grande parte, graças às práticas de melhoramento genético, que deram novas ferramentas aos produtores para lidar com as adversidades da cultura e avançar para um modelo mais eficiente e sustentável.

Essa recuperação não só trouxe a Bahia de volta ao topo da produção nacional, como evidenciou a importância do melhoramento genético como uma ferramenta de resiliência agrícola. O desenvolvimento de plantas mais resistentes à vassoura-de-bruxa e outras pragas, aliado à possibilidade de criar uma cultura mais adaptada ao solo e ao clima local, representa um divisor de águas para a produção de cacau, não só na Bahia, mas em todo o Brasil. Afinal, estamos falando de uma tecnologia que contribui para o aumento da produtividade, a redução do uso de agrotóxicos e a preservação do meio ambiente.

Casos de Sucesso: Arroz e Mamão

Quando falamos em engenharia genética aplicada à agricultura, é importante citar os casos emblemáticos do arroz e do mamão, apresentados pela renomada pesquisadora Pamela Ronald. O arroz Sub1, desenvolvido pela equipe de Ronald, foi modificado geneticamente para resistir a inundações por até duas semanas. Essa variedade beneficia diretamente milhares de agricultores em regiões da Ásia, onde as inundações são comuns, e ajuda a garantir a segurança alimentar de milhões de pessoas.

Outro exemplo é o mamão havaiano. No auge da crise causada pelo vírus da mancha anelar, uma doença que estava acabando com as plantações locais, a introdução de um gene do próprio vírus ao DNA do mamão conferiu resistência à doença. Esse processo de engenharia genética recuperou a produção e salvou a indústria do mamão no Havaí. E temos ainda o arroz dourado, outra criação de Ronald, que foi enriquecido com betacaroteno, precursor da vitamina A. Em áreas onde a deficiência dessa vitamina é um problema crítico, o arroz dourado tem potencial de combater a desnutrição e evitar milhares de casos de cegueira infantil e outras doenças.

Esses casos mostram como a engenharia genética pode ir muito além de simplesmente “modificar” plantas; é uma ferramenta de solução para problemas complexos que ameaçam a segurança alimentar mundial.

Realidade do Cacau Brasileiro

Quando olhamos para o cacau da Bahia, percebemos que o impacto da engenharia genética e do melhoramento genético já é uma realidade, não uma expectativa futura. As variedades de cacau desenvolvidas a partir dessas tecnologias possibilitam hoje uma produção mais resistente, adaptada e sustentável. Essa inovação tem sido crucial para retomar a posição da Bahia no cenário agrícola, mesmo após décadas de desafios severos como a vassoura-de-bruxa. E mais do que apenas “sobreviver”, essas práticas têm permitido que a cultura do cacau evolua com maior resistência, atendendo a um mercado global cada vez mais precisa de produtos sustentáveis e de alta qualidade.

Um Futuro Promissor e Mais Sustentável

Se quisermos manter uma produção de cacau sólida e sustentável, rentável e competitiva no mercado global, é essencial seguir abraçando a ciência e a inovação. O caso da Bahia mostra que, ao utilizarmos as tecnologias disponíveis, conseguimos transformar a realidade agrícola de forma impactante e positiva. O futuro da cacauicultura já está sendo moldado pelo uso consciente da engenharia genética, o que nos permite produzir mais com menos impacto ambiental, menor custo e maior resiliência.

A experiência do cacau na Bahia é um exemplo de como ciência e agricultura caminham juntas para construir uma produção de alimentos mais sustentável e resiliente. Afinal, já estamos vendo na prática os benefícios da engenharia genética no cacau – e esses são apenas os primeiros passos de um setor com um imenso potencial de crescimento e inovação.

Arthur Kis

Especialista em Cacau, Chocolate e Recheios | Consultor | Escritor